segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Tenho a situação controlada


Tenho a situação controlada.
Domino o meu espaço e o meu conteúdo.
O meu espaço vazio.
Ou as dezenas de objetos diferentes que guardo.
Sei sempre o que possuo, o que não existe ou o que falta.
Para estudar a minha fisionomia, talvez não seja preciso pensar muito.
Mas, visto mais de perto, sou quase divina e merecedora de grandes viagens.
Uma verdadeira companheira de amor e consolo, de reconhecimento.
Fui apoiada com tal força e paixão amorosa pela minha alma e pelos seus valores!
Ela me faz subir mil escadas, segurando-me e sem nunca me ignorar.
E eu estou aqui para acalmá-la, dar-lhe equilíbrio ou ser testemunha.
Por vezes, revolve a minha alma à procura de coisas necessárias, como batons e espelhos que guardo com carinho.
Procura lá dentro e encontra o meu sagrado espaço interior.
Repleto de maquiagens e espelhos, sou a bolsa da minha dama.
(David Roby)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Por isso ando sem olhar pra trás
já foi, virou notícia velha
de um jornal de muitos anos atrás
não vale a pena, não acrescenta
não sinto vontade, nem saudade
ficou antigo, velho e fedido
pelas coisas que apodreceram
e se perderam no caminho
Por isso ando sem olhar pra trás
não corro, ando de cabeça erguida
mesmo que tenha um peso na minha lembrança
que faz meus passos serem ainda mais fortes,
rápidos e decididos
Por isso ando sem olhar pra trás
num gesto de revolta, cuspo no chão
consciente do papel quase ridículo
mas vou em frente, sempre pensando
como pude?
Por isso ando sem olhar pra trás
não agüento esse cheiro
que antes eu respirava fundo pra sentir
e agora é um odor insuportável
não quero ouvir sua voz, sua conversa
falsa, dissimulada e desinteressante
não suporto olhar para o seu rosto
ficou cheio de marcas tristes
com cara de quem comeu
e nunca vai gostar de ninguém
Por isso ando sem olhar pra trás

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Todas as Cartas de Amor são Ridículas

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor.
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos
o problema é que quero muitas coisas simples, então pareço exigente.
Fernanda Young

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Hein?

Olho para os lados e pergunto: o que você acha que eu devo fazer? Pra onde eu devo ir?
Qual é a minha cara? Do que eu realmente gosto?
Perdi a vontade, a identidade e ando perdendo a paciência com a vida. Quero ser como um grande artista que olha a sua tela e respira orgulhoso. Quero ser como um atleta que, no dia da grande olimpíada, cai e chora, porque lutou e lutou anos pra ser o melhor.
Não sei pintar tela nenhuma, quando caio só me preocupo com o hematoma, se vai me deixar marcas. O único desejo que não me desgruda nunca é uma compra. A tal sensação de poder, de felicidade que dura até o momento em que entro no táxi e percebo a loucura que eu fiz.
Ultimamente, a minha única busca é uma busca. O que fazer pra ter tesão de levantar da cama e cantar no chuveiro?
Exagerei. Não preciso cantar. Só uma dançadinha na frente do espelho e louca pra sair correndo pra algum lugar.
A sensação que eu tenho é que o relógio (que eu não tenho no pulso) está correndo e me chamando ACOOOOOOOOOOOOOOOORDA SUA IDIOTA! FAÇA ALGUMA COISA REALMENTE LEGAL!
Aí já vem a loucura do espelho e já me vejo feliz, vestida num modelito “creative fashion”, nada básico, com calças rasgadas, mil pulseiras que tomam todo o meu antebraço, um anel enorme de pedra roxa (ametista) no meu dedo indicador e uma bota de plataforma altíssima. Nos meus cabelos, uma flor. Louca, eu?
Não! Quero extrapolar da cabeça aos pés, ando cheia de idéias malucas, mas não consigo filtrar uma que preste. Mas haverá um dia, em que alucinada e amparada por anjos amarrados (todos de branco mas com asas coloridas) me farão uma mulher de sucesso e realizada. Louca e feliz. Pobre e criativa. Porra-louca e cristã.

Bem na Moda


ELIZABETH SECKLEN

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"o luxo é uma válvula de escape tão indispensável à atividade humana quanto o repouso, o esporte, a reflexão (ou a oração)." Jean Castarède