sexta-feira, 27 de julho de 2007

sexta-feira, 20 de julho de 2007

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Era uma vez, uma Gisele...


Gisele nasceu numa família muito rica. Nasceu com muita saúde mas sem nenhum atributo físico. Quando bebê, tinha três babás que se revezavam e diziam que nunca tinham visto uma criança tão feia, mas com pena, comentavam “quem sabe quando a menina crescer ela não muda?”

As babás estavam enganadas. Gisele descobriu o espelho ainda pequena e não entendia o que via, achava que era um brinquedo que distorcia a sua imagem. A única vantagem era ir nas festas de halloween apenas com o vestido e o chapéu. O nariz já era grande demais, as orelhas de um tamanho descomunal que a mãe a ajudava prender com fita dupla face. Os olhos saltados ficavam assustadores embaixo das sombrancelhas grossas, sua boca grande dava um certo equilíbrio ao seu queixo avantajado e sua cabeça... bem, sua cabeça era desproporcional ao restante do corpo, e ela não era baixa, tinha 1,87m... a sua cabeça, realmente, é que era grande demais.

Gisele adquiriu quilos e quilos a mais, quando começou a comer, compulsivamente, pra compensar toda a solidão que era a sua vida. Gisele cresceu, convivendo com os olhares de pena, olhares de indignação e com muitos desvios de olhares.
Gisele se apaixonou. A primeira paixão foi pelo garoto mais feio do colégio, mais baixo do que ela, com óculos fundo de garrafa, dentes grandes que não cabiam dentro da boca, usava aparelhos dentários que faziam sua boca salivar constantemente e o cabelo sempre com aspecto de sujo, repartido para o lado.
Um belo dia, ela resolveu lhe pedir um beijo, aproximou-se do rosto dele, seu queixo se encostou no dele e ele lhe empurrou dizendo e cuspindo saliva, ao mesmo tempo:
- Você não tem espelho em casa?

Aos 23 anos Gisele decidiu reunir a família e pediu que toda a sua herança fosse empregada numa mega super cirurgia de renascimento facial e corporal. Todos da família se entreolharam e não viram outra saída a não ser, concordar.

Decidiram que seria em outro país, algo sigiloso. Uma equipe de cirurgiões japoneses, americanos, alemães, russos e um brasileiro se reuniu para o desafio. Alguns pensaram que isso poderia ter um terrível desfecho e quase desistiram na hora da cirurgia, mas o japonês, olhando para o corpo estendido, disse:
- coitada, a menina é muito feia!

Foram semanas de cirurgia num rodízio de pizzas, médicos, enfermeiros, anestesistas, familiares...
Gisele teve seu globo ocular transplantado por um menor, suas orelhas foram reduzidas e grudadas de novo à cabeça, seu nariz foi cerrado e minuciosamente estudado para ter equilíbrio com o queixo, que também havia sido cerrado e diminuído. Parte da pele do rosto foi retirada e esticada para que sua boca fosse refeita, seus dentes foram extraídos e uma nova arcada dentária implantada, com dentes perfeitos e branquíssimos.
O mais dificil foi a cabeça. O couro cabeludo e a pele do rosto foram repuxados ao máximo e lhe implantaram muitos cabelos, uma linda e espessa cabeleira fez com que a sua testa diminuísse um pouco.
Silicone aqui, mais um pouco ali, redução de estômago, de barriga, de mãos (os dedos foram recauchutados, sem deixar nenhum calinho pra contar história).
Felizes com o resultado, os médicos combinaram com a família que só iriam acordá-la quando tudo estivesse totalmente perfeito.
Gisele saiu do hospital e foi levada ainda de maca, dopada, ao melhor salão de beleza de Boston, onde o melhor cabeleireiro cortou os seus cabelos, aplicou-lhe luzes, hidratação, redesenhou suas sombrancelhas, lixaram suas unhas, as esmaltaram e a colocaram numa câmara de bronzeamento artificial.

Os médicos foram ao salão de beleza, para que, quando a acordassem, eles presenciassem sua obra prima.
- Ela está acordando! - sussurrou a mãe.

Todos correram pra perto dela. Gisele abriu os olhos. Lindos olhos azuis.
- Lindos! - gritaram em coro

Gisele sorriu. Um sorriso perfeito.
- Ohhhhh!!!! – todos exclamaram perplexos.

Gisele se sentou na cama, tirou lentamente sua linda lingerie Victoria’s Secret e colocou rapidamente a mão na barriga que agora, estava perfeitamente lisa, graças aos cremes Nivea que lhe aplicaram por todo o corpo.
- Nossssssaaaaaaa!!! – o médico japonês já sacava sua máquina fotográfica.

Gisele jogou, com a cabeça, os cabelos para os lados (slow motion) para sentir o movimento dos cacheados loiros naturais hidratados.
- Parabéns Wanderley - disse a mãe batendo palminhas, não se contendo de alegria

Gisele pediu que todos se afastassem, pois ela iria descer da cama.
Todos encantados, tomaram distância e Gisele ao colocar os pés no chão, caiu!
- Ohhhh, Gisele caiu!!! Todos espantados correram para acudí-la.

Ela disse, em tom irritado:
- Olhem, meus pés...

- Nossa, os pés! - todos saíram correndo.

Correram até um shopping e compraram um lindo par de sandálias Ipanema Grendene.

Gisele - depois

sexta-feira, 13 de julho de 2007

"considerando-se que tudo é perigoso, nada é realmente assustador." Gertrude Stein

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Romero Britto











A lente do amor grudou na retina e trouxe a realidade
para a paixão.
Agora, nela, vê-se poros abertos, veias desconcertantes
e azuis ao lado das narinas, que inspiram e expiram
o cansaço enfisêmico dos pulmões que já inflaram de
êxtase e susto
espera e dor.

Como é engraçada a miopia dos amantes histéricos.

Mas os olhos podem descansar do criativo,
as lentes revelam o cabelo debaixo da peruca e,
abaixo do cabelo, o couro. Que por vezes
escama e coça e dá vontade de escalpelar.

Como é engraçada a verdade que ninguém quer ouvir.

E aqueles, antes cegos, quase idiotas, reconhecem
primeiro a sombra, depois os relevos,
enfim as cores e as texturas.
E as lentes preenchem a transparência, entupindo-a
de estômagos, pâncreas, fígados e intestinos;
não dando mais para ver-se - vê-se o outro.
Então há o horror, e por fim, que é começo, o amor.

Como é engraçada a vida, posto que é só isso.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

terça-feira, 10 de julho de 2007

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Foto Chris Borgman

segunda-feira, 2 de julho de 2007

1001 noites sem o meu amor...


É só um título para este texto. Estou há muito mais tempo sem o meu verdadeiro amor. Ele não vem, não chega nunca... vive atrasado.
Ando até sonhando com atores, pessoas bem distantes de mim, me pego dançando nua, pinto minhas unhas com esmalte escuro, beijo meu cachorro na boca, minhas roupas são escuras, meu pijama é cinza e meu salto é alto.
Por que então me sinto tão pequena?
Será que é porque eu estou de meias?
Tomo Lexotan depois de um copo de leite quente. Tudo pra me acalmar. A raiva é que chega e eu juro que não vou pensar mais nele.
- Falsa! (alguém sempre me diz isso).
Prefiro esperar o telefone tocar, um avião aterrisar, o galo cantar - essa foi só pra rimar.
Parece coisa de louco. E é. Me lembro de um deles, me enviava poesias loucas, absurdas, de até 3 palavras. Mas só isso ele sabia fazer. Ainda não existia msn, torpedo, e-mail...
Conheci um outro que não conseguia escrever uma linha, copiava textos (da internet) e frases de efeito. Pelo menos vinham acompanhados de algum mimo.
E tantos outros... (não muitos).
Mas o meu verdadeiro amor chega amanhã. Tá na agenda. Ele não ligou desmarcando. Ele cumpre promessas e compromissos.
Peraí, uma ligação perdida... é dele.
Tem um recado na caixa postal...
Não quero ouvir, apaguei.
Vou tomar mais um Lexotan e amanhã vou até o aeroporto com um terço e flores na mão.

ELIZABETH SECKLEN

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"o luxo é uma válvula de escape tão indispensável à atividade humana quanto o repouso, o esporte, a reflexão (ou a oração)." Jean Castarède