Chovia muito naquele sábado de manhã. Chovia tanto que deu aquela preguiça enorme de colocar o focinho para fora. Mas não teve jeito. Max levantou, espreguiçou-se lentamente e caminhou para o jardim.
Ele não gostava nada de chuva. Nem de banho. Nem de cheiro de alho e barulho de moto.
No terraço, Max sentou, olhando a chuva cair, pesada, fria, molhada. Era sábado e o dia era daqueles compridos, daqueles que não acaba mais. Como uma gota longa que escorre no vidro. Como uma lambida de gato.
Mais tarde, um raio de sol deslizou entre as nuvens. Max saiu do torpor e foi caminhar, sem pressa, na grama molhada. Numa bromélia arreganhada tinha uma mosca. Uma mosca com patas e asas, como todas as moscas.
Mas essa mosca falava e disse:
- Ei, você aí! Viu minha frasqueira?
Max pensou que não era com ele. Moscas não falam.
- Você mesmo, peludão, tu viu minha frasqueira?
Era com ele mesmo. A mosca estava falando com Max.
- Eu não sei nada de frasqueira e moscas não falam.
- E quem disse que gato fala?
- Moscas não têm frasqueiras
- Você viu ou não minha frasqueira?
- Claro que não, mas para que você quer uma frasqueira?
- Não é uma frasqueira, matuto, é a minha frasqueira, a minha frasqueira de perfumes.
- Perfumes?
- Sim, perfumes. Vou ao baile da Ilha Fiscal, e ainda estou cheirando a cocô. Cocô de gato, fedido.
- Ah, desculpe, deve ser meu.
- É seu sim. Cocô de gato é como queijo francês. Fede mas é bom demais.
- Como você se chama mosca?
- Marília, e você, peludo?
- Prazer Marília, eu sou o Max.
- Prazer Max. Você me ajuda a procurar a minha frasqueira?
Max começou pela cozinha, depois foi ao quarto, entrou debaixo da cama, por cima da estante do corredor, na banheira, debaixo do piano. Marília sobrevoou pelos lustres, entrou na máquina de lavar, na lixeira da copa.
Mas nada de frasqueira.
- O que vou fazer? É a última festa da Ilha Fiscal. Não posso ir desse jeito. Como é que você foi cagar tão gostoso, seu gato cagão!
- Desculpe, Marília. É que tinha um salame jogado na pia, ontem.
- Um salame? Na pia? Meu Deus, o salame da pia! É isso!
- O que foi?
- O salame da pia, minha frasqueira está lá!
Em um piscar de olhos, Max e Marília já estavam na pia. Mas cadê o salame? Nada de salame. O salame não estava mais lá.
- O salame sumiu, esbravejou Marília.
- Que salame? Ah sim, o salame.
Marília se pôs a chorar. Como choram as moscas quando estão tristes. Histericamente. Max também chorou. Como choram os gatos. Silenciosamente.
- Marília, pera aí, o salame, você esqueceu a frasqueira no salame, certo?
- Sim, ontem eu vi aquele salame na pia e, como eu estava com pressa, larguei a frasqueira e dei uma lambida na gordurinha do salame.
- Mas eu comi o salame, Marília. Não vi frasqueira nenhuma lá. Será que comi a sua frasqueira junto?
- Você comeu a minha frasqueira?Você comeu a minha frasqueira, seu gato nojento, fedido, peludo!
- Acho que sim.
- E agora? O baile?
- Eu tive uma idéia
- Desde quando gatos têm idéias?
- Desde quando moscas têm frasqueiras?
- Você é um gato maldito, fedido e peludo.
- Não sou fedido.
- É sim fedido.
- Não sou, você é que é fedida porque come cocô.
- O seu cocô, fedido como você.
- Não sou fedido.
Foi assim que a briga começou. Primeiro foram só trocas de gentilezas. Acabou nas patas. Max e Marília brigaram muito. Até que num acesso de raiva, Max comeu Marília.
Chovia muito naquela tarde de sábado. Max estava cansado. Deitou-se na varanda da casa e dormiu.
E Marília, a mosca?
Chovia muito naquela noite de sábado. Marília encontrou sua frasqueira mas perdeu a hora com um resto de salame na barriga de Max e se atrasou para o último baile da Ilha Fiscal.
(Fernand Alphen)
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Crenças. Eu acredito no amor.
"Talvez não seja aconselhável ser uma otimista após os 30. Talvez pessimismo fosse como hidratante, para usar diariamente. Senão, como se recuperar quando a realidade abalar suas crenças e o amor não superar tudo, conforme prometido?
Esperança é a droga que devemos largar ou a que nos mantém vivos? Que mal há em acreditar?"
E faça-se a luz!
"Segundo alguns cientistas, sempre que uma mulher transa, seu corpo produz uma substância química que a faz se envolver e que é responsável por várias dúvidas cruéis que, sem querer, nos atormentam mesmo após um único encontro.
“Ele gosta de mim?”, “Ele vai ligar de novo?”. E a clássica: “Onde isso vai dar?”
Quando o assunto é homens, mesmo quando tentamos ir com calma, por que acabamos no escuro?"
ONE. A pessoa certa.
"Culpo o Dia dos Namorados..
Centenas de cartões declarando que “você é a pessoa certa”. Imagine quantas ligações são feitas tarde da noite só por causa desse conceito. E não é por causa do amor. Estamos sempre procurando algo que torne nossa vida completa.
O trabalho, as oportunidades, a família... quando termina a espera pela pessoa certa?"
Perigos.
"Quando você é jovem, sua vida gira em torno da procura pela diversão. Aí você cresce e aprende a ser cautelosa. Pode quebrar um osso ou o coração. Você olha antes de saltar, porque nem sempre existe alguém lá embaixo para amparar sua queda.
Na vida, não há redes de segurança. Quando a vida parou de ser divertida e se tornou assustadora?"
Tribunais e Separações
"No tribunal, o júri chega a um veredicto. Em um relacionamento, as vítimas devem decidir o seu próprio destino. Como podemos decidir o que fazer quando estamos tão envolvidos?
Precisamos de distância para ficarmos mais próximos?
No tribunal, você precisa ouvir os depoimentos. Nos julgamentos do amor, você precisa ouvir o seu coração."
Expectativas
"Nós, mulheres inteligentes, sabemos que não existe perfeição. Mas ainda assim a vida nos surpreende. Talvez, depois dos 30 anos, namorar deveria ter outro nome. Deveria se chamar: “esperar que as coisas esquentem”.
Se não é o sexo, algum de nós tem que mudar. Por que sempre existe um problema?
As pessoas acreditam que os homens evoluem junto com as mulheres. Existem vários artigos escritos sobre o “Homem Moderno”… mas será que esse “Homem Moderno” existe mesmo?
Ou será que é o mesmo homem de sempre com uma embalagem nova?
Os homens de hoje se sentem menos ameaçados por mulheres com poder? Ou será que só são bons atores?"
No Pregão do Amor.
Mercado de Ações e Namoro.
"Se você tem ações ruins, você se dá mal.
Se você tem um encontro ruim,
você perde a vontade de viver.
E se o encontro for bom,
o risco aumenta ainda mais.
Depois dos altos e baixos
você pode acabar sem nada.
Em finanças e namoros, a questão é:
Por que continuamos investindo?"
"Talvez não seja aconselhável ser uma otimista após os 30. Talvez pessimismo fosse como hidratante, para usar diariamente. Senão, como se recuperar quando a realidade abalar suas crenças e o amor não superar tudo, conforme prometido?
Esperança é a droga que devemos largar ou a que nos mantém vivos? Que mal há em acreditar?"
E faça-se a luz!
"Segundo alguns cientistas, sempre que uma mulher transa, seu corpo produz uma substância química que a faz se envolver e que é responsável por várias dúvidas cruéis que, sem querer, nos atormentam mesmo após um único encontro.
“Ele gosta de mim?”, “Ele vai ligar de novo?”. E a clássica: “Onde isso vai dar?”
Quando o assunto é homens, mesmo quando tentamos ir com calma, por que acabamos no escuro?"
ONE. A pessoa certa.
"Culpo o Dia dos Namorados..
Centenas de cartões declarando que “você é a pessoa certa”. Imagine quantas ligações são feitas tarde da noite só por causa desse conceito. E não é por causa do amor. Estamos sempre procurando algo que torne nossa vida completa.
O trabalho, as oportunidades, a família... quando termina a espera pela pessoa certa?"
Perigos.
"Quando você é jovem, sua vida gira em torno da procura pela diversão. Aí você cresce e aprende a ser cautelosa. Pode quebrar um osso ou o coração. Você olha antes de saltar, porque nem sempre existe alguém lá embaixo para amparar sua queda.
Na vida, não há redes de segurança. Quando a vida parou de ser divertida e se tornou assustadora?"
Tribunais e Separações
"No tribunal, o júri chega a um veredicto. Em um relacionamento, as vítimas devem decidir o seu próprio destino. Como podemos decidir o que fazer quando estamos tão envolvidos?
Precisamos de distância para ficarmos mais próximos?
No tribunal, você precisa ouvir os depoimentos. Nos julgamentos do amor, você precisa ouvir o seu coração."
Expectativas
"Nós, mulheres inteligentes, sabemos que não existe perfeição. Mas ainda assim a vida nos surpreende. Talvez, depois dos 30 anos, namorar deveria ter outro nome. Deveria se chamar: “esperar que as coisas esquentem”.
Se não é o sexo, algum de nós tem que mudar. Por que sempre existe um problema?
As pessoas acreditam que os homens evoluem junto com as mulheres. Existem vários artigos escritos sobre o “Homem Moderno”… mas será que esse “Homem Moderno” existe mesmo?
Ou será que é o mesmo homem de sempre com uma embalagem nova?
Os homens de hoje se sentem menos ameaçados por mulheres com poder? Ou será que só são bons atores?"
No Pregão do Amor.
Mercado de Ações e Namoro.
"Se você tem ações ruins, você se dá mal.
Se você tem um encontro ruim,
você perde a vontade de viver.
E se o encontro for bom,
o risco aumenta ainda mais.
Depois dos altos e baixos
você pode acabar sem nada.
Em finanças e namoros, a questão é:
Por que continuamos investindo?"
quinta-feira, 28 de maio de 2009
terça-feira, 19 de maio de 2009
Minha Casa
Se um dia você não estiver muito mal-humorado, com a cabeça pendendo para baixo e caladão num canto, você tem que vir me visitar.
Para deixar você com água na boca e balançando os pezinhos de ansiedade, vamos fazer de conta que você acaba de chegar, na imaginação.
Eu venho receber você no ancoradouro. O sol ainda está meio baixo, por cima do mar, mas já faz carinho na pele. Vou lhe dar a mão para descer do barco e, com um sorriso maroto, vou beliscar a ponta do seu nariz. Aqui no meu país é assim que damos as boas-vindas.
Vamos caminhar no pontilhão de madeira silenciosamente, cadenciando os passos ao ritmo da maré que gargareja na baía dourada. Depois, vamos subir o caminho de terra. Na primeira curva tem um bambuzal. Vamos dar uma parada discreta para olhar o mar que filtra espelhinhos de luz entre as folhas. Vale suspirar porque, a cada sopro que você der, jangadas minúsculas irão surgir, arrepiando a água azul, lá em baixo.
Vamos em frente e agora é preciso arregaçar as calças para atravessar o rio escuro. Cuidado para não escorregar nas pedras. No meio, tem uma pedra chata. Vamos sentar ali, um pouco. Você está vendo ali em cima, por cima daqueles arbustos acrobáticos? As frutas dessa mangueira são mágicas. Fazem você ver estrelas mais azuis, mais vermelhas, mais amarelas.
Na outra margem, o solo é liso e quente. Podemos tirar os sapatos e arrastar a planta do pé, patinando levemente, como se estivéssemos dançando. Quanto mais devagar, melhor, porque, a cada escorregada, uma nota vai despontar no céu, longa, firme. E, se você acompanhar o meu ritmo com cuidado, vai ser como se de repente mil orelhas pipocassem no seu corpo. Você vai ouvir sons que arrepiam o coração.
Lá em cima fica a minha casa. Já estamos chegando. Só falta mesmo atravessar a floresta de cipó e passar as mãos para sentir como eles se enroscam na sua nuca, correr pelo gramado com a boca bem aberta para sorver o vento de hortelã com canela e pular as doze cercas, prestando atenção aos gritinhos e prazer que as flores dão quando voamos por cima de seus pistilos coroados.
Pronto. Seja bem-vindo à minha casa. Não precisa agradecer. Ela é sua, todos os seus cantos e encantos.
Quando é que você vem?
Fernand Alphen
Se um dia você não estiver muito mal-humorado, com a cabeça pendendo para baixo e caladão num canto, você tem que vir me visitar.
Para deixar você com água na boca e balançando os pezinhos de ansiedade, vamos fazer de conta que você acaba de chegar, na imaginação.
Eu venho receber você no ancoradouro. O sol ainda está meio baixo, por cima do mar, mas já faz carinho na pele. Vou lhe dar a mão para descer do barco e, com um sorriso maroto, vou beliscar a ponta do seu nariz. Aqui no meu país é assim que damos as boas-vindas.
Vamos caminhar no pontilhão de madeira silenciosamente, cadenciando os passos ao ritmo da maré que gargareja na baía dourada. Depois, vamos subir o caminho de terra. Na primeira curva tem um bambuzal. Vamos dar uma parada discreta para olhar o mar que filtra espelhinhos de luz entre as folhas. Vale suspirar porque, a cada sopro que você der, jangadas minúsculas irão surgir, arrepiando a água azul, lá em baixo.
Vamos em frente e agora é preciso arregaçar as calças para atravessar o rio escuro. Cuidado para não escorregar nas pedras. No meio, tem uma pedra chata. Vamos sentar ali, um pouco. Você está vendo ali em cima, por cima daqueles arbustos acrobáticos? As frutas dessa mangueira são mágicas. Fazem você ver estrelas mais azuis, mais vermelhas, mais amarelas.
Na outra margem, o solo é liso e quente. Podemos tirar os sapatos e arrastar a planta do pé, patinando levemente, como se estivéssemos dançando. Quanto mais devagar, melhor, porque, a cada escorregada, uma nota vai despontar no céu, longa, firme. E, se você acompanhar o meu ritmo com cuidado, vai ser como se de repente mil orelhas pipocassem no seu corpo. Você vai ouvir sons que arrepiam o coração.
Lá em cima fica a minha casa. Já estamos chegando. Só falta mesmo atravessar a floresta de cipó e passar as mãos para sentir como eles se enroscam na sua nuca, correr pelo gramado com a boca bem aberta para sorver o vento de hortelã com canela e pular as doze cercas, prestando atenção aos gritinhos e prazer que as flores dão quando voamos por cima de seus pistilos coroados.
Pronto. Seja bem-vindo à minha casa. Não precisa agradecer. Ela é sua, todos os seus cantos e encantos.
Quando é que você vem?
Fernand Alphen
segunda-feira, 18 de maio de 2009
L’oiseau de Pernambouc
Acariciando o queixo, desenhava com uma mão, assuntando com as tripas e respirando com o coração.
Horas a fio pesquisava, firmava o traço e os rabiscos soluçavam sobre o papel.
Quando se deu por satisfeito, no quarto silencioso, um enorme sorriso iluminou o papel. A carta estava encerrada. Mandaria no dia seguinte.
Todas as cartas de amor são parecidas. Dizem as mesmas coisas, repetem as mesmas palavras, as mesmas superfícies e idênticos conteúdos.
Cartas de amor não dizem nada. Cartas de amor são palavras parasitas. Tal qual um vírus inanimado quando solto no ar, manifestam-se quando penduram seus mistérios no receptor.
E, quando encontram o único e adequado terreno, meu Deus, o que é essa avalanche? Meu Deus do céu, faça-me ser o escravo dessa química!
De que me importa o Deus do céu, quando se ama?
Acariciando o queixo, desenhava com uma mão, assuntando com as tripas e respirando com o coração.
Horas a fio pesquisava, firmava o traço e os rabiscos soluçavam sobre o papel.
Quando se deu por satisfeito, no quarto silencioso, um enorme sorriso iluminou o papel. A carta estava encerrada. Mandaria no dia seguinte.
Todas as cartas de amor são parecidas. Dizem as mesmas coisas, repetem as mesmas palavras, as mesmas superfícies e idênticos conteúdos.
Cartas de amor não dizem nada. Cartas de amor são palavras parasitas. Tal qual um vírus inanimado quando solto no ar, manifestam-se quando penduram seus mistérios no receptor.
E, quando encontram o único e adequado terreno, meu Deus, o que é essa avalanche? Meu Deus do céu, faça-me ser o escravo dessa química!
De que me importa o Deus do céu, quando se ama?
segunda-feira, 11 de maio de 2009
“A Prazerosa”
Tá na hora, tá na hora! Os beliches tremeram, os corredores foram invadidos instantaneamente, elevadores lotados, escadarias apinhadas. Quantas pernas habitam um formigueiro?
Pernas botadas disciplinam a saída. Pernas descalças ritmam a evacuação. Não tem chororô. Todo mundo a postos para o trabalho. Vida de formiga é assim mesmo. “Bem unidos façamos uma terra sem amos.”
Lá fora, o dia já tingia as primeiras sombras no chão.
A ordem era atacar uma roseira desavergonhada, uma roseira petulante no meio do jardim. Ela já estava no ponto, havia alguns dias, mas o manacá tinha dado mais trabalho do que o previsto.
Em fila indiana, a massa pisoteou a terra e enfurnou-se num túnel gramado para chegar ao pé lascivo que dardejava desafiadoramente sua verdura.
Os batedores espalharam-se pelo canteiro. A precaução era de circunstância. O mundo não está fácil, e roseiras gostosas são raras.
Era um trepidar infindável de pernas, acelerado, frenético.
Não houve um único intervalo, uma única parada para respirar, bater papo ou fazer xixi.
Quando avistaram o tronco espinhudo da messalina, a soldadesca acelerou o passo. Era preciso chegar logo, começar logo o trabalho.
A roseira era frondosa. O dia ia ser curto para dar cabo de tanta luxúria.
O esquadrão abre-alas, composto de formigas acrobáticas, lançou-se na escalada.
Era preciso mapear o alvo.
Rapidamente os planos de ataque foram traçados, esmiuçados, decorados.
A subida foi finalmente ordenada. Para o alto. Folhas tenras primeiro. Ia ser uma festa, um orgasmo coletivo, uma orgia selvagem.
Mas, quando a primeira observadora chegou ao cume da vagabunda, da roseira, um grito foi ouvido. Um grito de desespero. De pavor. Instantaneamente o formigueiro, que já enegrecia
o tronco, paralisou de espanto.
Não havia mais uma única folha viva: um demônio obeso, peludo, uma larva vermelha havia deflorado a roseira oferecida.
Acordar cedo, trabalhar duro de nada ajudou as formigas: retornaram com fome e sem tesão.
Já a larva tarada, num arroto vegetal, padeceu de indigestão.
E a rosa, a rosa safada, aguardou para dar-se noutra florada.
(Histórias para ex-crianças – Fernand Alphen)
Tá na hora, tá na hora! Os beliches tremeram, os corredores foram invadidos instantaneamente, elevadores lotados, escadarias apinhadas. Quantas pernas habitam um formigueiro?
Pernas botadas disciplinam a saída. Pernas descalças ritmam a evacuação. Não tem chororô. Todo mundo a postos para o trabalho. Vida de formiga é assim mesmo. “Bem unidos façamos uma terra sem amos.”
Lá fora, o dia já tingia as primeiras sombras no chão.
A ordem era atacar uma roseira desavergonhada, uma roseira petulante no meio do jardim. Ela já estava no ponto, havia alguns dias, mas o manacá tinha dado mais trabalho do que o previsto.
Em fila indiana, a massa pisoteou a terra e enfurnou-se num túnel gramado para chegar ao pé lascivo que dardejava desafiadoramente sua verdura.
Os batedores espalharam-se pelo canteiro. A precaução era de circunstância. O mundo não está fácil, e roseiras gostosas são raras.
Era um trepidar infindável de pernas, acelerado, frenético.
Não houve um único intervalo, uma única parada para respirar, bater papo ou fazer xixi.
Quando avistaram o tronco espinhudo da messalina, a soldadesca acelerou o passo. Era preciso chegar logo, começar logo o trabalho.
A roseira era frondosa. O dia ia ser curto para dar cabo de tanta luxúria.
O esquadrão abre-alas, composto de formigas acrobáticas, lançou-se na escalada.
Era preciso mapear o alvo.
Rapidamente os planos de ataque foram traçados, esmiuçados, decorados.
A subida foi finalmente ordenada. Para o alto. Folhas tenras primeiro. Ia ser uma festa, um orgasmo coletivo, uma orgia selvagem.
Mas, quando a primeira observadora chegou ao cume da vagabunda, da roseira, um grito foi ouvido. Um grito de desespero. De pavor. Instantaneamente o formigueiro, que já enegrecia
o tronco, paralisou de espanto.
Não havia mais uma única folha viva: um demônio obeso, peludo, uma larva vermelha havia deflorado a roseira oferecida.
Acordar cedo, trabalhar duro de nada ajudou as formigas: retornaram com fome e sem tesão.
Já a larva tarada, num arroto vegetal, padeceu de indigestão.
E a rosa, a rosa safada, aguardou para dar-se noutra florada.
(Histórias para ex-crianças – Fernand Alphen)
sábado, 21 de março de 2009
Anjo Vitor
Um belo dia, um anjo escolheu este lugar para trazer alegria, paz, amor e ensinar para as pessoas daqui, que a vida é linda, porém, breve.
Ele encheu os corações de amor, fez muitos amigos, espalhou alegria e até jogou um futebol pra provar que além de anjo, era também muito bom de bola.
Sabendo que os anjos têm uma missão importante quando vêm para a terra, que é proteger as pessoas, ele também sabia que um dia teria que voltar.
E um dia, sem ser avisado que aquele era o dia, teve que voltar para sua casa sem poder se despedir de todos que amava.
Hoje, ele não está aqui, agora vive alegrando as estrelas, muitos outros anjos e todos os santos lá no céu.
Ele encheu os corações de amor, fez muitos amigos, espalhou alegria e até jogou um futebol pra provar que além de anjo, era também muito bom de bola.
Sabendo que os anjos têm uma missão importante quando vêm para a terra, que é proteger as pessoas, ele também sabia que um dia teria que voltar.
E um dia, sem ser avisado que aquele era o dia, teve que voltar para sua casa sem poder se despedir de todos que amava.
Hoje, ele não está aqui, agora vive alegrando as estrelas, muitos outros anjos e todos os santos lá no céu.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
Cow Parade Madri - by Werner Pockel
Werner maravilhoso arrasando em Madri!
O diretor de arte brasileiro Werner Pockel, que trabalha na agência espanhola Kitchen mandou uma proposta à mostra CowParade Madrid, em meados de 2008.
Ela concorreu com outras 1200 idéias.Em novembro último, Pockel soube que seu projeto foi um dos escolhidos pela organização do evento.Ao todo, 105 layouts de vacas foram selecionados e elas já estão espalhadas pelo Centro e região de Salamanca de Madri.O nome da vaca de Pockel é Vida. E é o criativo quem explica: "Quis ir para o lado abstrato, mesmo. Não queria que a proposta se fechasse em uma idéia, mas sim deixar em aberto para quem a visse, para cada um poder fazer sua leitura pessoal dela. Quis homenagear os grandes nomes espanhóis das artes plásticas (Picasso, Miró e Dali), temperando com muita cor, afinal sou brasileiro. As linhas e cores representam a vida em constante movimento e tranformação, como a minha, que vim morar em Madri.A CowParadeMadrid segue até 21 de março.
Mais detalhes no site http://www.cowparademadrid.com/
O diretor de arte brasileiro Werner Pockel, que trabalha na agência espanhola Kitchen mandou uma proposta à mostra CowParade Madrid, em meados de 2008.
Ela concorreu com outras 1200 idéias.Em novembro último, Pockel soube que seu projeto foi um dos escolhidos pela organização do evento.Ao todo, 105 layouts de vacas foram selecionados e elas já estão espalhadas pelo Centro e região de Salamanca de Madri.O nome da vaca de Pockel é Vida. E é o criativo quem explica: "Quis ir para o lado abstrato, mesmo. Não queria que a proposta se fechasse em uma idéia, mas sim deixar em aberto para quem a visse, para cada um poder fazer sua leitura pessoal dela. Quis homenagear os grandes nomes espanhóis das artes plásticas (Picasso, Miró e Dali), temperando com muita cor, afinal sou brasileiro. As linhas e cores representam a vida em constante movimento e tranformação, como a minha, que vim morar em Madri.A CowParadeMadrid segue até 21 de março.
Mais detalhes no site http://www.cowparademadrid.com/
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ELIZABETH SECKLEN
- by Helô Neves
- "o luxo é uma válvula de escape tão indispensável à atividade humana quanto o repouso, o esporte, a reflexão (ou a oração)." Jean Castarède